Os relatórios do IPCC tendem a ser cautelosos: comparações de dados mostram que as mudanças climáticas estão ocorrendo de forma mais rápida e intensa do que as previsões indicavam
Mito Climático:

“Inquestionavelmente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi montado para construir o caso científico de que a humanidade é a primeira causa do aquecimento global.  Tal objetivo é fundamentalmente não-científico, já que é hostil a hipóteses alternativas para as causas das mudanças climáticas.” (Roy Spencer)

Uma caracterização atribuída ao IPCC é a de que ele seria politicamente motivado a exagerar os perigos do aquecimento global e o nível de influência dos seres humanos nas mudanças climáticas. No entanto, quando as previsões do IPCC são comparadas aos dados observados, o oposto parece ser verdade.

Cenários Conservadores das Emissões de Gases de Efeito Estufa

Por exemplo, a aceleração nas emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis está acompanhando os cenários mais pessimistas apresentados no relatório AR4 do IPCC (Diagnóstico de Copenhague 2009). Consequentemente, o CO2 atmosférico está aumentando dez vezes mais rápido do que qualquer taxa já detectada nos dados obtidos a partir de testemunhos de gelo para os últimos 22 mil anos.

Figura 1: Emissões globais observadas de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis e da produção de cimento em comparação com os cenários de emissões do IPCC. A área em vermelho cobre todos os cenários usados pelo IPCC para construir as projeções para as mudanças climáticas (Diagnóstico de Copenhague 2009)

Atribuição Conservadora do Aquecimento Global aos Humanos

Enquanto o IPCC foi o primeiro a atribuir o aquecimento global aos seres humanos em 1995Cook et al. (2013) constataram que houve mais de 90% de consenso na literatura científica especializada de que os seres humanos estão causando o aquecimento global, pelo menos desde 1991.

Figura 2: Percentual de artigos científicos endossando o consenso de que os seres humanos estão causando o aquecimento global, entre todos os artigos que expressam uma posição de aprovação ou rejeição desse consenso. Fonte: Cook et al. (2013)

Além disso, o relatório do IPCC de 2013 declarou:

“É extremamente provável [mais de 95% de certeza] que a influência humana seja a causa dominante no aquecimento observado desde meados do século 20.” Em 2007, o painel considerou que era “muito provável” [mais de 90% de certeza] que os humanos fossem a influência dominante.

Todavia, o corpo de investigação científica tem constantemente demonstrado que as emissões humanas de gases de efeito estufa são responsáveis por mais aquecimento do que tem sido observado ao longo do último meio século (porque os aerossóis e outros gases não responsáveis pelo efeito estufa que têm influência sobre a temperatura tiveram um efeito de resfriamento líquido). Wigley e Santer (2012) constataram que a afirmação do IPCC de 2007 que atribui o aquecimento aos gases de efeito estufa antrópicos é muito conservadora.

“Aqui, a probabilidade de que o modelo de aquecimento estimado com base nos GEE (gases de efeito estufa) seja maior do que todas as tendências observadas (isto é, não apenas maior do que ‘a maior parte” do aquecimento observado) é de cerca de 93%. Portanto, usando a terminologia do IPCC, é muito provável que o aquecimento induzido pelos GEE seja maior do que o aquecimento observado. Nossa conclusão é consideravelmente mais forte do que a declaração original do IPCC.”

De fato, a estimativa central dos autores é que os seres humanos são responsáveis ​​por 100% do aquecimento global observado para o período de 1950-2005, sendo os GEE responsáveis ​​por 160% (Figura 3).

Figura 3: Contribuição percentual de vários efeitos sobre o aquecimento da superfície global, observada ao longo dos últimos 50-65 anos, de acordo com Tett et al. 2000 (T00, azul escuro), Meehl et al. 2004 (M04, vermelho), Stone et al. 2007 (S07, verde), Lean and Rind 2008 (LR08, roxo), Huber and Knutti 2011 (HK11, azul claro), Gillett et al. 2012 (G12, laranja), e Wigley eSanter 2012 (WS12, verde escuro)

Como mostra a Figura 3, uma vasta literatura científica é ainda muito consistente ao considerar que os GEE têm, muito provavelmente, causado mais aquecimento do que tem sido observado durante a última metade do século 20, e, portanto, que o IPCC tem sido muito conservador nesse aspecto.

Projeções Conservadoras sobre o Aumento do Nível do Mar

Medições por satélite e mareógrafos mostram que o nível do mar está aumentando mais rapidamente do que o esperado. Rahmstorf, Foster, e Cazenave (2012) compararam os dados históricos do nível do mar apresentados por Church e White (2011) e dados recentes de altimetria do nível do mar obtidos por satélite (Figura 4, laranja e vermelho, respectivamente) com os modelos de projeções apresentados pelo IPCC nos relatórios de 2001 e 2007 (Figura 4, azul e verde, respectivamente). Os dados de observações na Figura 4 estão alinhados de forma que a extensão da linha de correlação do satélite (vermelho) em 1990 corresponderá às projeções do IPCC naquela data, quando o modelo do Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC começou a ser rodado.

Figura 4: Nível do mar medido pelo altímetro do satélite (vermelho com linha de tendência); dados AVISO do Centre National d’Etudes Spatiales e reconstruídos a partir de mareógrafos (laranja, dados mensais de Church e White (2011)). Os dados de mareógrafos foram alinhados para dar a mesma média durante 1993–2010, como os dados do altímetro. Os cenários do IPCC são novamente mostrados em azul (terceira avaliação) e verde (quarta avaliação); tendo sido a primeira avaliação publicada a partir do ano de 1990 e a segunda a partir de 2000.

Os autores concluíram o seguinte:

“A tendência linear baseada nos dados de satélites entre 1993-2011 é de 3,2 ± 0,5 mm/ano, o que é 60% mais rápido do que a melhor estimativa, que é de 2,0 mm/ano para o mesmo intervalo de tempo.”

As projeções futuras do IPCC para o aumento do nível do mar também parecem ser muito conservadoras, principalmente por não levarem em conta os processos dinâmicos do derretimento das calotas polares.

Projeções Conservadores sobre o Declínio do Gelo no Oceano Ártico

O derretimento de verão do gelo do oceano Ártico tem sido mais rápido do que as expectativas dos modelos climáticos. A área do oceano Ártico que derreteu durante 2007-2009 foi cerca de 40% maior do que a média prevista nos modelos climáticos do relatório AR4 do IPCC. A espessura do gelo do Ártico também tem estado em constante declínio ao longo das últimas décadas. A espessura do gelo em setembro vem diminuindo no ritmo de 57 cm por década, desde 1987.

Figura 5: Extensão observada (linha vermelha) e modelada para o mês de setembro do gelo no mar Ártico, em milhões de quilômetros quadrados. A linha preta sólida dá a média de 13 modelos do R4 do IPCC, enquanto as linhas pretas tracejadas representam sua abrangência. O mínimo para 2009 foi recentemente calculado como 5,10 milhões de km2, o terceiro ano com registro mais baixo e ainda assim bem abaixo do pior cenário do IPCC (Copenhagen Diagnosis 2009).

Projeções Precisas para o Aquecimento da Superfície Terrestre

Rahmstorf, Foster e Cazenave (2012) também constataram que as projeções de temperatura da superfície terrestre do IPCC têm sido precisas até agora. No artigo os autores aplicaram a metodologia de Foster e Rahmstorf (2011), a qual utiliza a técnica estatística de regressão múltipla para filtrar as influências da Oscilação Sul-El Niño (OSEN) e da atividade solar e vulcânica dos dados das temperaturas da superfície terrestre, e concluíram que, quando essas influências são removidas, as projeções do IPCC coincidem com precisão com a tendência observada para o aquecimento da superfície terrestre causado pelo homem (Figura 6).

Figura 6: Temperatura anual global observada, sem ajuste (rosa) e ajustada com as variações de curto prazo causadas pela atividade solar, vulcânica e pela OSEN (vermelha), como sugerido por Foster e Rahmstorf (2011). As médias para cada 12 meses, assim como as linhas de tendência, são mostradas e comparadas com os cenários do IPCC (área e linhas azuis se referem ao relatório de 2001, as verdes ao relatório de 2007). As projeções foram alinhadas no gráfico de forma que elas começassem (em 1990 e 2000, respectivamente) na linha de tendência (ajustada) dos dados observados.

Desafios Assimétricos para a Ciência

Um estudo (Freudenburg 2010) investigou o que é chamado de “Assimetria do Desafio Científico (ADC)”, quando a ciência não consegue avaliar todos os resultados, favorecendo certas probabilidades e ignorando outras. No caso do IPCC, os pesquisadores descobriram que a mídia desafia firmemente as previsões, partindo do princípio de que elas são exageradas, e que mostram os piores cenários. Mas eles falham ao não especular se o oposto é verdadeiro; se poderia ser igualmente correto sugerir que as coisas poderiam ser muito piores. Os pesquisadores resumiram dessa forma:

“…novas descobertas científicas foram vinte vezes mais propensas a apoiar as perspectivas da ADC [de que a ruptura por meio do aquecimento global de causas antrópicas pode ser muito pior do que o IPCC sugere] do que o habitual enquadramento da questão nos meios de comunicação dos Estados Unidos. Os achados indicaram que … se os repórteres querem discutir ‘os dois lados’ da questão climática, o ‘outro lado’ cientificamente legitimado afirma que, de fato, a perturbação climática global pode revelar-se significativamente pior do que tem sido sugerido pelas estimativas do consenso científico, até o momento”.

Enquanto esse estudo abordou especificamente a relação entre os principais meios de comunicação e a ciência do climaa conclusão geral à qual eles chegaram sugere que as críticas aqui elaboradas podem ser altamente inapropriadas:

“Se a intenção é oferecer um equilíbrio verdadeiro nas informações, o ‘outro lado’ cientificamente crível é que, se as estimativas de consenso tais como as do IPCC estão erradas, é porque a realidade física é significativamente mais assustadora do que tem sido amplamente reconhecida até o momento”.

Brysse et al. (2012) sugerem que o IPCC e os cientistas do clima, geralmente, tendem a ser muito conservadores em suas previsões porque eles estão “errando pelo lado do menor drama” (ESLD). No entanto, eles apontam que uma previsão subestimada é tão ruim quanto uma superestimada. Os cientistas do clima podem estar introduzindo tendências em suas previsões por medo de serem chamados de “alarmistas”, mas essas tendências conservadoras podem não nos preparar para a magnitude das alterações climáticas futuras.

 

Este texto foi adaptado do site Skeptical Science. Leia em português aqui (com tradução de claudiagroposo) e o original em inglês aqui (por dana1981).