O novo aumento do desmatamento na Amazônia divulgado nesta segunda-feira (30/11) coincide com uma queda de 42% das multas por infrações contra a flora no mesmo período medido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de agosto de 2019 a julho de 2020.
Sob comando das Forças Armadas desde maio, fiscais do Ibama aplicaram 1.964 autos de infração nos nove estados da Amazônia Legal. É o nível mais baixo já registrado no combate ao desmatamento. Bateu o recorde negativo anterior, que ocorreu parcialmente sob o governo de Jair Bolsonaro: 3.403 (de agosto de 2018 a julho de 2019).
A taxa oficial de desmatamento em 2020 é de 11.088 km2, a maior desde 2008, segundo dados preliminares do Inpe. Houve alta de 9,5% em relação a 2019. No ano passado já havia ocorrido aumento de 34%.
No Pará, a alta relativa foi 2,5 vezes maior do que a média para a Amazônia. O Estado concentrou quase metade do desmatamento (47%) em 2020, seguido por Mato Grosso (16%), Amazonas (13,7%) e Rondônia (11,4%).
A queda recorde dos autos de infração abrange o período de intervenção das Forças Armadas na Amazônia. Desde maio, todas as ações de combate ao desmatamento são coordenadas pelo Ministério da Defesa. É a primeira vez que isso ocorre desde a criação do Ibama, em 1989.
No dia 17/11, mostramos que o número de multas e de propriedades embargadas caiu nos seis meses da operação militar Verde Brasil 2, apesar do orçamento seis vezes maior e do “reforço” de 3.400 militares.
Em entrevista durante o anúncio da taxa oficial de desmatamento, o vice-presidente Hamilton Mourão, que coordenada o Conselho da Amazônia desde o início do ano, tirou o corpo fora: “As Forças Armadas não realizam a fiscalização”, declarou. Ele não explicou por que, então, coordenam o trabalho.
Em seguida, Mourão anunciou a retirada dos militares da Amazônia a partir de abril de 2021, apesar de já ter afirmado que o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que permite o emprego das Forças Armadas na região seria mantido até o fim do mandato de Jair Bolsonaro, em 31 de dezembro de 2022.
Após diversos ataques do presidente e de Mourão ao Inpe, o anúncio da taxa de desmatamento ocorreu no instituto. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não participou da divulgação dos dados, contrariando a praxe de governos anteriores. Mourão declarou à imprensa que Salles não compareceu porque o lançamento dos dados – um evento anual, que faz parte do calendário ambiental brasileiro desde 1989 – foi marcado “de última hora”. Até a publicação desde post, Salles não tinha nenhum compromisso na agenda durante toda a semana.