Manto de gelo tem mais de 3 km de espessura em alguns locais e cobre 80% da Groenlândia
Mito Climático:

“Sallie Baliunas, da CfA […], se refere às sagas medievais dos vikings como exemplos de aquecimento incomum próximo ao ano 1003 d.C. ‘Os vikings estabeleceram colônias na Groenlândia no início do segundo milênio, mas morreram vários séculos depois, quando o clima resfriou’, ela comenta.” (William Cromie)

A Groenlândia (Greenland, em inglês) é uma vasta área situada a leste do Canadá, entre os oceanos Ártico e Atlântico. Aproximadamente 80% da ilha é coberta pelo manto de gelo da Groenlândia. Durante os anos 980, exploradores escandinavos e islandeses estabeleceram duas ou três colônias na costa sudoeste da ilha. Mas quais eram as condições climáticas na Groenlândia há cerca de mil anos? Vamos explorar as três questões seguintes:

  • Quão antigo é o manto de gelo da Groenlândia?
  • Existe alguma evidência de aquecimento global naquele tempo?
  • Quais fatores causam as mudanças climáticas?

O manto de gelo da Groenlândia tem pelo menos 400.000 anos

 

Cientistas estimam que o manto de gelo da Groenlândia tem entre 400.000 e 800.000 anos. Isso significa que é improvável que a ilha hoje seja tão diferente do que quando os europeus se estabeleceram lá. No entanto, há evidências de que as áreas colonizadas tenham sido mais quentes do que hoje, com grandes florestas de bétulas fornecendo madeira e combustível aos colonizadores. O aquecimento coincidiu com o período conhecido como Anomalia Climática Medieval, ou Período Quente Medieval, que discutiremos em seguida.

Então, como a Groenlândia recebeu este nome? De acordo com as sagas islandesas, Erik, O Vermelho, nomeou a ilha de Greenland em uma tentativa de atrair colonizadores em busca de terra e promessas de uma vida melhor. No entanto, a idade do manto de gelo, que tem mais de 3 km de espessura em alguns locais e que cobre 80% da Groenlândia, prova que as oportunidades de estabelecer comunidades teriam sido limitadas a áreas relativamente pequenas.

O aquecimento durante a Anomalia Climática Medieval não foi global

 

Durante a Anomalia Climática Medieval algumas regiões, sobretudo no Atlântico Norte e em partes da Europa, estavam mais quentes do que hoje, ou muito mais quentes. No entanto, outras áreas estavam mais frias, e de modo geral as evidências sugerem que as temperaturas globais durante esse período eram similares às do início ou metade do século XX, e mais frias do que hoje. Este período é explorado com mais profundidade aqui.

Assim, não apenas a Groenlândia estava quase completamente coberta por gelo quando os europeus chegaram lá, mas também as condições relativamente quentes encontradas por eles não foram um fenômeno global. Isso contrasta com o que ocorre hoje, um aquecimento em escala global. A figura abaixo é um mapa que mostra reconstruções de anomalias de temperatura durante o Período Medieval Quente. Tons azuis indicam menores temperaturas, enquanto cores quentes indicam temperaturas mais altas, quando comparadas ao referencial do período de 1961-1990.

 

Anomalias de temperatura da superfície reconstruídas para o Período Medieval Quente (950-1250), comparadas com o período de referência 1961-1990. (Fonte: Mann et al., 2009)

Pode-se comparar esse estudo com uma reconstrução similar que observou anomalias de temperatura da superfície para o período 1999-2008. Essa reconstrução mostra claramente a natureza global do aquecimento recente.

 

Anomalias de temperatura da superfície para o período 1999-2008 em relação ao período de referência 1961-1990. (Fonte: NOAA)

Mudança climática natural versus antrópica

 

O aquecimento pode ser resultado de vários fatores, portanto as causas das mudanças climáticas ocorridas no passado não necessariamente são as mesmas de hoje. Por exemplo, a Anomalia Climática Medieval foi caracterizada por uma relativamente alta atividade solar, baixa atividade vulcânica e possivelmente mudanças no padrão de circulação dos oceanos. Esses fatores podem explicar tanto a escala quanto o padrão do aquecimento daquela época. No entanto, eles não podem explicar o aquecimento recente. Indo mais diretamente ao ponto, mudanças nos fatores naturais teriam, provavelmente, levado a um resfriamento nas últimas décadas. Isso contrasta com as múltiplas linhas de evidência, que apontam o papel dos humanos no aquecimento recente.

Conclusão

 

É improvável que a Groenlândia tenha sido tão diferente há mil anos do que é hoje, já que o manto de gelo da ilha tem pelo menos 400.000 anos. A evidência mostra não apenas que a Groenlândia não era verde, mas também que o aquecimento na época foi predominantemente um fenômeno regional causado por fatores naturais. Compare isso com os achados inequívocos da comunidade científica sobre o aquecimento presente: de que as mudanças climáticas são agora globais, causadas principalmente por atividades humanas.

 

Este texto foi adaptado do site Skeptical Science. Leia em português aqui (com tradução de Luciano Marquetto) e o original em inglês aqui (por dana1981).